Crivella deixa oito mil funcionários da saúde do Rio sem salário por dois meses
Por Fania Rodrigues:
Atrasos nos repasses da prefeitura do Rio causam prejuízos aos trabalhadores.
A prefeitura do Rio de Janeiro está com o pagamento de funcionários
terceirizados da saúde atrasado pelo segundo mês consecutivo. Desde que
assumiu o governo municipal, o prefeito Marcelo Crivella (PRB) vem
atrasando os repasses de recursos às Organizações Sociais (OSs -
empresas que administram unidades de saúde), segundo o vereador Paulo
Pinheiro (PSOL), que há 8 anos acompanha e fiscaliza o setor.
Pelo menos três OSs não receberam os repasses e deixaram de pagar os
salários de 8 mil trabalhadores da saúde. Esse total representa 26% do
quadro de terceirizados da rede municipal de saúde, que hoje contrata 30
mil pessoas através das OSs. As informações foram fornecidas pelo
vereador do Psol.
As razões para os atrasos, segundo Paulo Pinheiro, são duas. “O novo
prefeito demorou a abrir o orçamento de 2017. Isso normalmente é feito
no final de janeiro, mas Marcelo Crivella só começou a administrar o
orçamento depois do Carnaval. Isso atrasou os repasses de recursos. A
outra razão é que existe um problema concreto que é uma dívida com as
OSs de R$ 260 milhões, deixada pela gestão do ex-prefeito Eduardo Paes
(PMDB)”, explica o vereador.
A informação foi confirmada pelo atual secretário municipal de Saúde,
Carlos Eduardo de Mattos, durante uma reunião realizada com
parlamentares municipais no dia 22 de fevereiro na Câmara de Vereadores.
Atualmente, oito OSs administram 125 clínicas da família, 30 centros
psicossociais,14 unidades de pronto atendimento (UPAs), sete centros de
emergência, três maternidades e três hospitais. Juntas, essas unidades
representam quase a metade da estrutura de saúde do município e consomem
45% do orçamento anual da Saúde do Rio. O orçamento de 2017 para essa
pasta é de R$ 5,4 bilhões, dos quais R$ 2,4 bi serão repassados às OSs.
Sob a administração da própria prefeitura estão outros 118 postos de
saúde, nove policlínicas, cinco maternidades, quatro institutos, quatro
hospitais e dois centros de reabilitação.
No entanto, além da dívida deixada por Eduardo Paes, a prefeitura
terá que enfrentar outro problema. Trinta e uma unidades da Clínicas da
Família, inauguradas no segundo semestre do ano passado, próximo às
eleições, ficaram de fora do orçamento de 2017. “Essas clínicas não
possuem recursos, mas precisam funcionar. Por isso a previsão é que a
prefeitura vá contingenciar cerca de R$ 454 milhões na Saúde”, explica
Paulo Pinheiro. Na prática significa dizer que a Prefeitura terá que
fazer cortes de recursos nas unidades de saúde para tapar o buraco da
dívida e das clínicas que ficaram fora do orçamento.
Na semana passada, a secretaria de Fazenda do município já havia
anunciado que faria corte de R$ 700 milhões nas despesas da prefeitura
do Rio.
Para fazer esses cortes, o prefeito teria que passar a medida pela
Câmara Municipal. Porém, o vereador Reimont (PT) garante que Crivella
não tem apoio da bancada para aprovar medidas impopulares. “Na Câmara o
ambiente é de descontentamento generalizado com a gestão de Marcelo
Crivella. O próprio líder da bancada governista subiu na tribuna, semana
passada, para criticar o prefeito. Nunca vi isso. A prefeitura está sem
rumo, cada secretário fez de sua pasta uma prefeitura à parte e não há
diálogo entre a equipe do governo municipal”, destaca Reimont.
O vereador diz ainda que a situação da Saúde no município é
preocupante. “Em Saúde e Educação a gente não corta, a gente tem é que
investir. Além disso, estamos falando de setor que já precário. Como o
prefeito pode querer cortar recursos de algo que já não é uma
maravilha?”, questiona Reimont.
Para o vereador do Psol, os atrasos nos salários dos funcionários da
saúde, assim como a falta de remédios e insumos básicos nas unidades de
atendimento básico, é resultado do fracasso de uma política que
terceirizou a Saúde. “Esse modelo implantado pelo prefeito Eduardo Paes,
de contratar OSs para administrar a saúde pública não está dando certo.
Realizamos 27 auditorias nos contratos com as OSs e em todas elas tinha
irregularidades, como compra superfaturada de remédios, contratação
empresas de fachada em nome de familiares dos donos das OSs e contratos
milionários com escritórios de advocacia”, aponta Paulo Pinheiro.
O Brasil de Fato conversou com funcionários de
Clínicas da Família da prefeitura e ele confirmaram os atrasos nos
pagamentos. Inclusive uma trabalhadora e seu esposo foram demitidos por
questionarem a falta de pagamento. “Estamos sem receber nosso salário e
tomamos a frente para mobilizar nossos colegas. Em represália a isso
fomos demitidos”, disse a agente comunitária de saúde, Rebeca Paschoal,
em suas redes sociais. Imediatamente recebeu solidariedade dos colegas
de profissão e disse: “nunca vi tamanha união de uma classe e é assim
que precisamos continuar: unidos”, informou em seguida.
Um funcionário, que pediu para não ser identificado, afirmou que o
clima nas unidades da prefeitura é de apreensão. “Esse já é o segundo
mês que sofremos com atrasos nos salários. Isso gera um sentimento de
instabilidade e preocupação quanto à situação da prefeitura nesse
momento”, diz o trabalhador. O medo é de que a crise do governo do
estado esteja chegando ao município.
Em contato feito com a secretaria de Saúde, o Brasil de Fato
questionou os motivos dos atrasos nos pagamentos e perguntou quando a
situação será normalizada. Em resposta, a assessoria de imprensa enviou
uma curta nota: “A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informa que estão
sendo feitos ajustes no fluxo orçamentário e que trabalha para
regularizar os pagamentos o mais rápido possível”.
Fonte: Brasil de Fato
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